"(...) Tengo sabia que o tempo pode deformar-se quando decorre. O tempo em si, tem uma composição uniforme, mas, quando se consome, assume uma forma distorcida. Um período de tempo pode ser terrivelmente pesado e comprido, ao passo que outro pode revelar-se curto e ligeiro. Há ocasiões em que a ordem natural das coisas pode inverter-se e, nos piores momentos, essa ordem chega mesmo a desaparecer por completo. Por vezes, há coisas que nunca deveriam acontecer e que acontecem. Ao ajustar o tempo às suas conveniências, é provável que as pessoas regulem a sua razão de ser. Por outras palavras, acrescentando tais operações ao tempo, conseguem - mas por pouco - manter a sua sanidade. É certo e sabido que, se uma pessoa tivesse de aceitar o tempo por que passou, de forma uniforme, pela ordem certa, os seus nervos não aguentariam a pressão. Tengo acreditava que uma vida assim constituiria uma perfeita tortura. Devido à expansão do cérebro, as pessoas haviam adquirido a noção de temporalidade, mas, em simultâneo, tinham aprendido modos de alterar e ajustar o tempo. As pessoas consomem o tempo de forma incessante e, em sincronia, paralelamente, reproduzem sem cessar o tempo que a sua consciência ajustou. Um feito notável. Não admira que o cérebro tenha de consumir quarenta por cento da energia total do corpo!"
(Haruki Murakami, in 1Q84)
Ultimamente sinto que as semanas passam a voar. De certa forma, adquiri uma habilidade qualquer para esticar os fins-de-semana ao máximo, tornando-os o meu ponto central, e de tornar a semana uma espécie de intervalo em contagem decrescente entre cada um deles. Não é o tempo que abranda, e sim a minha capacidade de o percepcionar, tal como Murakami descreve. Pensando bem, é uma capacidade bem conveniente e agradável. Se a semana me durasse 5 dias inteiros, e o fim-de-semana apenas 2, a minha sanidade mental estaria em risco. Do meu ponto de vista distorcido, claro ;)
Bom fim-de-semana!
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