Monday, 17 February 2014

Do novo dia


"O novo dia está quase a chegar, mas o antigo arrasta ainda os seus pesados contornos. Tal como a água do mar e a água do rio medem forças na foz do rio, o velho tempo e o novo tempo lutam e misturam-se. Takahashi não sabe dizer ao certo de que lado do mundo se situa o seu centro de gravidade.
(...) O nosso olhar afasta-se do coração da cidade e desloca-se em direcção aos subúrbios, até uma zona residencial calma. Lá em baixo, alinham-se casinhas de dois andares com jardim. Vistas de cima, todas essas casas parecem iguais. Mesmo rendimento anual, mesma estrutura familiar. Um Volvo azul-marinho reflecte orgulhosamente o brilho matinal. Os jornais da manhã acabaram de ser distribuídos. Os habitantes do bairro passeiam os seus grandes cães. Através das janelas, ouve-se o barulho típico dos pequenos-almoços a serem preparados. Vozes que se interpelam. Também aqui, um novo dia está prestes a começar. Poderá ser um dia igual aos outros, ou, então, em muitos aspectos, um dia excepcional, digno de ficar na memória. Em todo o caso, naquele preciso momento, e para a maioria das pessoas, é uma folha de papel em branco sobre a qual ainda nada foi escrito.
(...) Lá fora o dia torna-se rapidamente cada vez mais claro. Raios de luz nova infiltram-se no quarto por entre os intervalos dos estores. A velha temporalidade perde a sua vitalidade e recua, começando a desaparecer. Muito boa gente continua a murmurar as velhas palavras, mas, à claridade do Sol acabado de romper, o significado das palavras muda a uma velocidade espantosa, e renova-se. Mesmo imaginando que os novos significados são, no essencial, coisas temporárias que duram apenas até à hora do crepúsculo desse mesmo dia, a verdade é que vamos partilhar esse tempo, fazer juntos esse percurso."

(Haruki Murakami, in After dark - Os passageiros da noite)


Boa semana!


::: photo by nikoliner

Wednesday, 12 February 2014

Lately












Apesar da chuva incessante, apesar dos dias rápidos e agressivos demais para o meu gosto, apesar de nos últimos tempos ser difícil ver muito para além do dia de amanhã, Fevereiro trouxe-nos uma boa mudança e, com ela, alguma paz de espírito. Sinto-me grata por isso, e pelos pequenos prazeres da vida que vou encontrando pelo caminho:

- achados da feira de velharias: carimbos, uma cesta, livros antigos com capas bonitas
- vitamina C do quintal dos meus pais
- pão de sementes feito em casa
- receber cartas de longe
- o campo mesmo em dias de chuva... 
- este texto
este video (via)
este post

Bom resto de semana!



Friday, 7 February 2014

Caldas da Raínha - Parque D. Carlos I


No passado fim-de-semana fomos passear até às Caldas da Rainha. O S. Pedro estava bem disposto e presenteou-nos com um dia sem chuva, e pudemos fazer um picnic no parque D. Carlos I. Tinha memórias deste lugar que queria partilhar com o N., pois sempre me pareceu mágico, com lindos edifícios de um lado, o museu José Malhoa do outro, as árvores e o lago.




Fiquei impressionada com a degradação actual do que descobri serem os antigos pavilhões do Hospital Termal, aparentemente ao abandono e em risco de destruição, mas nem assim perderam a sua beleza e imponência.



Em algumas zonas do parque, parecia Primavera, com árvores e arbustos em flor.










Não visitámos o Museu porque tínhamos outros planos, mas ficou combinado para a próxima vez.

Bom fim-de-semana!



Monday, 3 February 2014

Fevereiro






Fevereiro começou com breves rasgos de sol e uma espécie de Primavera dentro de casa...

Friday, 31 January 2014

De Janeiro


Assim foi o primeiro mês do ano, rápido e muito cansativo, mas também com bons momentos para recordar.

Monday, 27 January 2014

Manifesto pelas coisas boas da vida















Às vezes é preciso vencer todo este frio e chuva à nossa volta e dentro de nós. Fazer por ir ao encontro da paz que tanto nos faz bem. O dia de ontem foi assim... Um fazer por deixar o que não interessa para trás e vencer a imposição constante de um relógio que teima em não parar, um manifesto pelas coisas boas que a vida tem, tão ao nosso alcance. Debaixo de chuva, mesmo assim, saímos para um passeio junt à praia. Levámos almoço, sandes de frango, chá de gengibre bem quente e tangerinas, que comemos dentro do carro com vista para o mar. À primeira aberta, bem agasalhados, saímos para caminhar junto às dunas, para ouvir o som de um mar zangado com a terra, para respirar o sal renovador...
No regresso, terminei atarde no atelier ao som deste album, e fiz um crumble de maçã e pêra para o lanche, acompanhado de chá branco e o meu gato no colo.
Preparei cuidadosamente a minha semana. Fiz iogurte natural, descasquei uma romã para os pequenos-almoços de aveia, arrumei a casa e o atelier, escolhi a roupa do dia seguinte. Preparei a minha mente para um registo positivo, de boas energias e muita garra para enfrentar a semana sem medos nem ansiedades. Opto antes por pensar no recomeço como uma coisa boa, cheia de potencialidades.
Boa semana!

Friday, 24 January 2014

O tempo, rebelde


"(...) Ela interrompe a sua leitura e olha lá para fora. Da janela onde se encontra, no segundo andar, pode observar o movimento da rua. Apesar do adiantado da hora, está tudo iluminado e a fervilhar de gente - pessoas que têm onde estar e outras sem ter para onde ir; pessoas com um destino certo e outras sem destino; pessoas que procuram deter o tempo, enquanto outras se esforçam por precipitar o curso dos acontecimentos. Após ter lançado um longo olhar na direcção do espectáculo difuso que se desenrola lá fora na rua, ela inspira e permanece por breves instantes com os pulmões cheios de ar antes de expirar, depois volta a mergulhar na leitura do livro."

(Haruki Murakami, in After dark, Os passageiros da noite)



Ultimamente os dias passam e mal tenho tempo de respirar. Vou-me focando no que posso, no que vai sendo urgente diariamente, à espera de dias mais lentos. Sinto falta do tempo que foge, saudades de paz, de música, do mar... o tempo é aquilo que fazemos com ele, mas quando a maior parte não nos pertence inteiramente, e é de quem nos paga o que comemos, a pressão para aproveitar bem o pouco que resta é ainda maior. Apesar do desabafo, prometi a mim mesma que não iria alimentar este tipo de pensamentos, porque não me fazem bem. Em alternativa, escolho respirar fundo, várias vezes ao dia, e seguir em frente. O tempo é um rebelde, mas sou grata pelo que me é concedido.

Bom fim-de-semana!