escrevo-te
não que saiba escrever ou dizer o que quero
Resolvi passear e na tarde acontece
encontrar o lenço no bolso e dos beirais ao olhar a rua
a rua chegar à porta escrevo-te
porque me apetece escrever e ainda esta manhã te vi e
Compro o jornal e
da esplanada escrevo a canivete os nossos nomes no ar do rio
escrevo-te e as palavras duram mais
e são ditas de todas as vezes que lidas e
não que saiba escrever ou dizer o que quero Entro
e o autocarro está cheio
e ainda esta manhã te vi e
Passeei a tarde inteira e se me acho nos beirais dos bolsos
e se acontece vir das a casa que leias o que te digo
de todas as vezes
Então pedi um café demorado e não li o jornal
e dos beirais das o nome às coisas e
os pombos juntam-se aos velhos no jardim e o autocarro está cheio
E acontece vir dar a casa escrevo-te
e antes do jantar entrego-te esta carta em mãos
e não é porque saiba escrever ou dizer o que quero é
só porque sim
(João do Nascimento)
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