Wednesday 11 November 2009

Aqui, assim.



Quando ficamos como assim, a ouvirmo-nos e
a falarmo-nos, somos capazes de descobrir muito
mais do que todos eles, obedientes e assustados.
Como aqui, assim estas palavras a levarem esta
voz fazem-nos saber que estamos juntos, mesmo
quando não há uma sala com estas paredes e só
conseguimos duvidar e duvidar desta verdade.
Estamos juntos, mesmo quando nos separamos
pelas ruas e, dentro de nós, somos um exército
de segredos, mesmo quando os escondemos do
mundo que desejámos e que desejamos indescon-
troladamente, desincomparavelmente como um
silêncio que mente e mente e não mente.
Estamos juntos no silêncio, apesar desta voz
carregada por estas palavras, apesar das formas todas
dos nossos corpos e dos desenhos que somos capazes
de fazer com o olhar. As nossas mãos procuram-se
à noite, dentro das luzes apagadas. As nossas mãos
nossas, encontram-se agora e são invisíveis (...)
(...) Esta voz, se eles
conseguirem entender esta voz, mudaremos de
língua. Esta voz é esta sala. Esta voz são os caminhos
que fizemos à margem de cidades e de argumentos
razoáveis. As palavras são pedras. As certezas
perseguiram-nos e abrandámos para que nos
alcançassem. Agora, esta voz dirige-se ao teu rosto.
Nada nos é impossível. Nem mesmo o impossível
nos é impossível. Explicamo-nos uns aos outros e,
sem que ninguém nos perturbe, encontramo-nos
sempre como agora, aqui, assim, como agora,
aqui, assim.

(José Luís Peixoto, in Gaveta de Papéis)

1 comment:

Nuno G. said...

;) luv ya, baby!